sábado, 14 de abril de 2012

SEMPRE

Sempre esta sensação de inquietude. De esperar mais. Hoje são as borboletas e amanhã será a tristeza inexplicável, o tédío ou a atividade desenfreada de arrumar este ou aquele quarto, de costurar, de ir aqui ou ali cumprir ordens, enquanto tento tapar o Universo com um dedo, fazer minha felicidade com ingredientes de receita de cozinha, lambendo os dedos às vezes e às vezes sentindo que nunca poderei me satisfazer, que sou um barril sem fundo, sabendo que "não me conformarei nunca" mas buscando absurdamente me conformar enquanto meu corpo e minha mente se abrem, se estendem como poros infinitos onde se aninha uma mulher que teria gostado de ser pássaro, mar, estrela, ventre profundo dando dando à luz Universos, novas reluzentes...e ando estourando pipocas de milho no cérebro, brancos tufinhos de algodão, rajadas de poemas que me assaltam o dia inteiro e me fazem querer inflamar como um balão para ocupar o mundo, a Natureza, para me encharcar em tudo e estar em todos os lugares, vivendo uma e mil vidas diferentes...
No entanto, hei de lembrar que estou aqui e que continuarei ansiando, agarrando pitadinhas de claridade, fazendo eu mesma meu vestido de sol, de lua, o vestido verde-cor do tempo com o qual, uma vez, sonhei viver em Vênus...

Gioconda Belli (me empreste essas palavras)

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